segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Reforma na Cozinha

Querido amigo,

o blog tem estado desatualizado por um motivo justo: estou fazendo uma reforma completa n'A Cozinha Curiosa. Em breve, você terá acesso a um blog mais bonito, mais prático e mais interativo. E eu espero que tudo isso funcione! Então, aguarde. Dentro de alguns dias o novo blog já estará disponível. Até lá.

Um grande abraço,

Marcio

quinta-feira, 21 de junho de 2007

A Era do Gelo

E aí, já respondeu a pergunta? Afinal, o que congela mais rápido: água quente ou água fria? Parece incrível, mas a resposta certa é água quente. Isso mesmo, água quente congela mais rapidamente do que água fria. Ainda não acreditou? Vamos aos fatos cientifícos...
Três efeitos agem nessa situação de congelamento. O primeiro é a convecção, que é relação entre os movimentos dos líquidos. Quando as temperaturas não são as mesmas (nesse caso, o topo fica naturalmente mais frio que a base), esses movimentos permitem trocas de calor mais bruscas.
O segundo é a relação com os gases. A água fria dissolve mais gás que a água quente. Dessa forma, pela quase ausência de gás, a água quente esfria mais depressa. Aliás, se você quiser fazer gelos perfeitos, bonitinhos, sem manchas brancas, faça-os com água quente. Aquelas manchas são causadas pela existência de gás na água.
E por fim, o líquido quente perde água por evaporação, fazendo com haja menos água para congelar. Simples, não? E já que falamos de gelo, nada como um sorvetinho bem gostoso e fácil de fazer. Vamos às receitas.

PICOLÉ DE IOGURTE

Fácil, gostoso e saudável. Você só precisa juntar a mesma quantidade de iogurte natural e polpa de fruta (morango fica ótimo!). Para cada pote de iogurte, acrescente 1 e 1/2 colher de sopa de mel (você pode colocar mais ou menos mel, depende do seu gosto). Bata tudo no liquidificador até ficar bem espumante. Coloque em forminhas de picolé e ponha para congelar. Congeladas, é só servir.

SORVETE DE AMENDOIM

Coloque 3 colheres de sopa de pasta de amendoim numa panela e coloque para derreter em banho-maria. Depois de 1 minuto, coloque 50g de choclate branco picado nessa panela. Mexa e misture tudo. Quando o chocolate já estiver quase derretido, acrescente 3 colheres de sopa de mel e 3 colheres de sopa de suco de laranja. Quando tudo já estiver derretido, retire do fogo, dê uma boa e vigorosa mexida e deixe esfriar. De vez em quando dê umas outras mexidas. Quando estiver frio, acrescente 1 colher de sopa de suco de limão. Bata 200g de creme de leite fresco até o ponto de chantili. Acrescente o chantili aos poucos na massa de amendoim, mexendo com cuidado para não perder a cremosidade do chantili. Despeje a massa num recipiente plástico com capacidade de, pelo menos, 1/2 litro. Coloque no congelador por 6 horas e pronto. Se você quiser, antes de colocar o chantili, acrescente amendoim picado.

Você já ouviu que massa tem que descansar. Sabe o motivo? Na semana que vem falaremos sobre isso e na receita... massa de macarrão! E alguns molhos para dar gosto à vida. Até lá.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Derrapando na Maionese

Você já ouviu isso: água e óleo não se misturam. E, em condições normais, não se misturam mesmo. É que a água é formada por duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio (o H2O que todo mundo conhece), enquando o óleo é formado por uma combinação mais maluca um pouco e que se estrutura em três fileiras de ligações moleculares. Assim, fica praticamente impossível que a água se junte a essa estrutura. Praticamente, mas não impossível. E é o que uma emulsão é: uma mistura que junta água (ou qualquer coisa que tenha uma estrutura muito parecida, como o vinagre) e óleo. Existem emulsões que só duram enquanto você está batendo a mistura. Outras duram um pouco mais. E outras ficam bem estáveis. Entre as estáveis mais famosas, está a maionese. Mas peralá, maionese não é feita com gema de ovo e azeite? Cadê a água?
A gema do ovo é composta de proteína e... água. Quando batemos a gema com o azeite, esse composto proteico envolve as partículas de água e azeite, fazendo a ligação entre eles. É por isso que se coloca o azeite em fio no liquidificador. Assim, a parte oleosa é quebrada em partículas bem pequenas, facilitando a ligação. E é assim que funciona. Vamos à receita!

MAIONESE BÁSICA

Preciso dizer que, aqui no Brasil, nós praticamente só usamos maionese para aquela salada de batatas que a tia faz e que vira um "bate-entope" ou para dar liga em junk food. Para isso, a maionese industrializada está de bom tamanho. Mas essa emulsão é um molho muito saboroso e nutritivo, podendo (e devendo) ser aproveitado de forma mais nobre. E veja como é fácil de fazer.
Para cada gema, você vai precisar de 100ml a 200ml de azeite. A quantidade vai ser definida pelo tamanho da gema e pelo ponto da maionese. Coloque as gemas no liquidificador e pingue um pouco de suco de limão. Aí depende do gosto de cada um. Eu costumo usar meio limão para cada duas gemas, mas eu gosto muito de limão. Tampe o liquidificador, mas retire aquela tampinha central da tampa. Ligue-o em velocidade baixa. Vá colocando o azeite bem devagar, fazendo o fio mais fino que você conseguir e vá vendo o ponto. Chegou na cremosidade que você quer, parou de liquidificar, ok? Acerte o sal e estará tudo pronto.
Ah, a maionese desandou? A sabedoria popular manda colocar outra gema e bater. Antes disso, tente colocar um pouco de água e bater. Deve dar certo e você economizou uma gema...

GUARIBANDO A MAIONESE

A primeira dica é muito simples: tempere com ervas. Pode ser no início do processo (antes de colocar o azeite) ou depois da maionese já pronta. Quase todas as ervas vão muito bem com maionese. Tente o estragão, por exemplo, e sirva junto com um peixe grelhado. Hummmm...

Uma outra dica é fazer purê de alho ou de cebola e colocar maionese suficiente para fazer um creme leve. Passe uma boa camada numa fatia de pão de forma, salpique quijo parmesão ralado e leve ao forno. Pronto, você tem um canapé de primeira.

Tente também fazer um molho picante com maionese, alcaparras picadas, anchovas picadas e pimenta dedo-de-moça picada (retire as sementes!). Acompanha muito bem carnes bovinas ou vira um belo molho para salada verde.

E vá testando outras combinações. Esqueça por um tempo a pasta de atum. Seja criativo e aproveite o que de melhor se pode fazer com essa bela maionese.


Em tempos de inversão térmica e com um inverno que, de dia, faz calor, me responda: o que gela mais rápido?Água quente ou água fria? Cuidado com a resposta que parecer mais óbvia, você pode estar enganado... E ainda rolam duas receitas enganadoras de sorvete que ficam duas delícias!! Até semana que vem.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

O Brigadeiro Já Foi Granada!

Qual é o doce preferido das crianças? Brigadeiro, lógico. Não só das crianças, mas de muitos adultos também. Confesso que não gosto tanto assim. Acho que é um desperdício de chocolate e leite condensado. Prefiro o cajuzinho (que o Caco Antibes não me leia).
O brigadeiro foi criado ao fim da segunda guerra mundial. Na época, havia falta de ovos e quase todos os doces da época levavam ovos. Por coincidência (e por causa da guerra), havia sobra de leite condensado. E aí criaram o brigadeiro, dizem que no Rio Grande do Sul, que não leva ovos e tem o leite condensado como base. Não tinha esse nome ainda. Por causa da sua aparência, era chamado de granada, granadinha, torpedo e outras nomenclaturas bélicas. Só ganhou o nome de brigadeiro depois.
Tudo tem a ver com o Brigadeiro Eduardo Gomes. Ele fez parte do levante dos 18 do Forte e foi candidato da UDN à Presidência da República em 1945, mas acabou derrotado por Gaspar Dutra. Por ser solteiro e bonito, ele era um sucesso com as jovens brasileiras da época, tanto que o seu slogan de campanha era "Vote no Brigadeiro, que é bonito e é solteiro". E nas campanhas serviam o docinho de leite condensado e chocolate que ficava cada vez mais popular. E a partir daí começaram a chamá-lo de brigadeiro. Em referência ao Brigadeiro Eduardo Gomes, que ainda se candidataria mais uma vez, em 1950, e seria, mais uma vez, derrotado por Getúlio Vargas. E é essa história.

DOCINHOS NO COPINHO

Sábado agora foi o aniversário da minha Julia. Foi uma comemoração bem íntima, tipo pais, avós e padrinhos. Mesmo assim, aniversário de filha é mais do que motivo para dar uma caprichada. Festa de criança tem que ter... docinhos! E quais docinhos? Brigadeiro e beijinho. Bom, foi exatamente isso que rolou para a Julinha, só que fiz um pouquinho diferente. Os doces foram "enformados" em copinhos de chocolate. Veja como é fácil:
  • OS COPINHOS: derreta chocolate fracionado meio amargo. Encha as formas de moldar copinhos. Vire de cabeça para baixo e deixe escorrer o excesso. Coloque no freezer por 10 minutos. Repita a operação e mais 10 minutos de freezer. Retire das forminhas, acerte as aparas e deixe descansar um pouco.
  • BRIGADEIRO ESCURO: leve ao fogo baixo 1 lata de leite condensado e meio tablete de chocolate meio amargo, mexendo sempre até dar ponto de brigadeiro. Retire do fogo e incorpore uma caixinha de creme de leite. Misture bem e deixe descansar um pouco. Com o saco de confeitar, preencha os copinhos com o brigadeiro. Decore com flocos de arroz coberto de chocolate branco.
  • BRIGADEIRO CLARO: leve ao fogo baixo 1 lata de leite condensado e meio tablete de chocolate branco, mexendo sempre até dar ponto de brigadeiro. Retire do fogo e incorpore uma caixinha de creme de leite. Misture bem e deixe descansar um pouco. Com o saco de confeitar, preencha os copinhos com o brigadeiro. Decore com flocos de arroz coberto de chocolate escuro.
  • BEIJINHO: leve ao fogo baixo 1 lata de leite condensado e 1 coco ralado, mexendo sempre até engrossar. Retire do fogo, deixe esfriar um pouco e leve à geladeira por 20 minutos. Retire da geladeira e, coma ajuda de uma colher pequena, preencha os copinhos com essa "cocada".

Ficam lindos, deliciosos e diferentes. Experimente.

Por falar em experimentar, experimente a deliciosa receita de Peixe à Delícia, que o mestre Marcos VP postou hoje no seu Pirão Sem Dono (post "Embananando o Peixe").

Sabe aquela história de que água e óleo não se misturam? Pois é, só que maionese é exatamente isso, mistura de água e óleo. Como pode? É o que veremos na próxima semana. De quebra, receita de... maionese! E algumas dicas diferentes de o que fazer com esse molho. Até lá.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Afinal, o Que a Gelatina Faz Com a Água?

Prende. Resposta simples, não? Mas é isso mesmo. Prende, segura, retem. Vou explicar...
Os grãos de gelatina têm a capacidade de expansão de até dez vezes o seu tamanho original. Quando hidratados, eles se expandem e ao fazer isso eles retêm a água dentro deles e dos seus ligamentos, criando uma rede poderosíssima que aprisiona o líquido. Por isso ganha aquele aspecto, digamos, gelatinoso. Quando aquecida, ela perde essa capacidade. Esfriou, a capacidade volta. E dá para fazer esse vai-e-volta várias vezes.
Essa textura interessante é perfeita para várias receitas, pois permite "enformar" alimentos. Tente fazer a salada de frutas que segue. Fica bonita, gostosa e saudável.

SALADA DE FRUTAS ENFORMADA

Prepare um pacote de gelatina de pêssego como descrito na embalagem do produto mas não leve à geladeira. Unte uma forma de pudim com óleo. Coloque um pouquinho de nada de gelatina no fundo e leve para gelar. Quando estiver firme (1 minuto ou 2), retire da geladeira e coloque uma camada de frutas pequenas ou picadas. Cubra com mais gelatina e volte para a geladeira. Vá fazendo camada por camada até que a forma fique toda ocupada. Frutas como uva, maçã, banana, cereja e tangerina em gomos fechados ficam ótimas. Abacaxi e pêssego só devem ser usados se forem cozidos ou em calda, porque têm uma enzima que destrói as ligações da gelatina. Mamão nem pensar.
Para desenformar basta balançar e rodar de um lado para o outro a forma. Apóie um prato na boca, vire e pronto. Para servir, você pode fazer um creme com creme de leite, açúcar e umas gotinhas de essência de baunilha. Coloque esse creme no "buraco" da gelatina e o efeito ao servir será bastante interessante.

O que um candidato a presidente tem a ver com o docinho preferido das crainças (e dos adultos também)? É o que veremos na próxima semana, junto com as receitas dos docinhos da festa da Julia. Até lá.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Desconfie de Quem Pedir Um Bife Sangrando, Pode Ser o Drácula...

Sabe aquela história de bife sangrando? Esqueça, bife não sangra. O sangue do animal foi quase todo retirado na hora do corte. O que sobra, se sobrar, é imperceptível. E aquele vermelho todo da carne? E aquele caldo cor de sangue que sai do bife? Acredite, não tem nada a ver com sangue. E tem uma explicação, vamos lá.
Aquela cor do sangue é definida pela hemoglobina, só que essa tal de hemoglobina só existe no tecido sangüíneo. Os músculos não têm hemoglobina. Músculos? É músculo. Todas essa carnes que comemos são músculos. Filé mignon, contra-filé, alcatra, picanha, fraldinha... tudo músculo. Até músculo é músculo. Pois é, músculo não tem hemoglobina, mas tem mioglobina, que também dá a coloração vermelha. Quanto mais novo for o animal, mais clara é a carne. Quanto mais "malhado" for o músculo, mais escuro ele será (basta ver como o filé mignon é clarinho, pois é uma parte do boi que não faz esforço algum). E quanto mais fresca for a carne, mais clarinha ela será. Nesse caso, a culpa é da oxidação da mioglobina, pelo contato com o ar. Entendido?
Uma sensacional combinação de carne bem tostada com carne mal passada é a esta receita do rosbife que segue. Costuma ser um sucesso entre os meus amigos e espero que você goste também. Vamos lá:

ROSBIFE DO MEU JEITO

Você vai precisar de uma peça inteira de filé mignon bem limpa. Dê uma amarrada nela, fazendo com que ela fique presa, porém sem apertar muito (tem gente que faz um torniquete na carne, coitada). As funções dessa amarrada são manter a carne bem junta para que ela não desmonte ao cortar e dificultar a perda do "suco" da carne (já sabemos que não é sangue). Sele a carne numa panela anti-aderente em fogo alto. Selar é colocar a carne rapidamente em contato com o calor só para que ela perca a cor vermelha, passando a ser "cinza" clara. Isso também serve para reter o "suco", evitando que ela fique dura e sem sabor. Selou? Então tire a carne da panela. Nessa panela coloque óleo até a altura de 1 dedo. Tempere a carne com sal e pimenta do reino. Não seja econômico, pois você está temperando uma peça inteira. Depois de temperada, polvilhe bastante gengibre em pó em toda a carne. Com o óleo bem quente (você pode fazer o teste do fósforo: coloque um fósforo no óleo, se ele acender é porque está bem quente), coloque a carne para fritar. Deixe 1 minuto e vire de lado. E vá virando e virando até que você já tenha conseguido uma crosta bem crocante. O miolo ainda estará bastante cru. Eu gosto assim, mas se você quiser que ela fique mais passada um pouco faça uma das duas sugestões de complemento de cozimento:
  • sugestão 1: aqueça uma placa de metal (se você não tiver, uma frigideira fina serve) e leve para a mesa sobre um rechaud. Cada pessoa que for se servir poderá dar o ponto da carne na placa.
  • sugestão 2: depois de chegar no ponto na frigideira, coloque numa forma e leve ao forno médio-baixo pré-aquecido. 10 minutos devem bastar.

Você pode fazer um molho de mostarda ou de alcaparras para dar um charme nesse rosbife. Batatas ao forno e salada vão muito bem como acompanhamentos. Ummm, salivei...

Você entende porque a gelatina fica com aquele aspecto, digamos assim, gelatinoso? Esse será o tema do nosso blog, que trará uma receita bonita e fácil para servir frutas numa sobremesa. Até lá.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

O Cachorro Era Para Ser Quente, Já o Hambúrguer...

De onde vêm o cachorro-quente e o hambúrguer? Há várias histórias e lendas envolvendo esses dois sanduíches e eu resolvi contar as que eu gosto mais. Não são, necessariamente, as mais legais, mas são as que eu acho que fazem mais sentido. Então, lá vão.
Comecemos pelo hambúrguer que é mais velho (e antigüidade é posto). Os povos bárbaros que habitavam a Europa sempre gostaram muito de carne. O problema era aproveitar aquelas partes dos animais que forneciam uma carne muito dura. Os cavaleiros, soldados montados que se faziam admirar pela violência como guerreavam, descobriram um jeito de "amaciar" a carne mais dura: colocavam em bolsas de couro presas nas amarras das celas dos cavalos. Assim, com as longas cavalgadas, a carne acabava se "desfazendo" e assim nasceu a carne de segunda moída (que nada tem a ver com a carne moída utilizada pelos árabes, por exemplo). No início, eles a comiam crua com temperos, mas muita gente deve ter passado mal e eles arrumaram um jeito de cozinhar aquilo, fazendo liga com um pouco de pão. E onde entra Hamburgo nessa história? Da maneira menos nobre do que se imagina. Esse modo de preparar a carne moída passou a ser muito popular na Alemanha, não só em Hamburgo. Mas foi nessa cidade que se desenvolveu mais rapidamente o mercado de consumo desse produto, com vários restaurantes oferecendo hambúrgueres. No início, era um prato como outro qualquer. Só muito mais tarde é que virou sanduíche.
Quanto ao cachorro-quente, a história tem início nos arredores dos estádios de esportes nos Estados Unidos. A cada jogo, do que quer que fosse, várias carrocinhas de sorvetes, bebidas e frutas tomavam conta da periferia dessas arenas esportivas. E como faturavam os carroceiros! Só que no inverno as vendas caíam absurdamente. Foi aí que um desses carroceiros teve a idéias de fazer algo quente para comer. Que tal salsichas? E começaram os salsichões a tomar conta das carrocinhas nos dias mais frios. Aí, alguém percebeu que, naquele tumulto todo, um salsichão preso no espeto não era tão prático assim. E passou a trabalhar com salsichas finas colocadas no pão. E assim foi. Vieram os molhos, os temperos e, por fim, todos aqueles absurdos que temos hoje a nossa disposição nas carrocinhas de cachorro-quente espalhadas por todos os lugares.
E o nome? Cachorro-quente? Por mais que pareça mentira, dizem que é, realmente, porque a salsicha lembra aquele cachorro basset (e suas variações). E no inverno, quando alguns donos de basset colocam roupa nos bichos, eles parecem que estão no pão. E vamos às receitas:

HAMBÚRGUER MEIO BESTA

Pegue meio quilo de uma boa carne moída. Junte meia xícara de azeitona verde picada e uma colher de sopa de alcaparras picadas. Se você gostar de pepinos em conserva, pode colocar também (e, aí, a quantidade depende do seu gosto). Acrescente 2 fatias de pão de forma levemente torradas e esfareladas e 1 ovo (é isso que vai fazer a liga). Misture bem. Tempere com sal e pimenta do reino e misture bem novamente. Prove e veja se está bom de tempero. Modele os hambúrgueres e coloque os em um pote untado com azeite. Depois de todos modelados, derrame azeite por cima deles e leve-os à geladeira por, pelo menos, 4 horas. De preferência, faça-os na véspera. Depois é só colocá-los na frigideira ou levá-los ao forno. Ficam divinos...

CACHORRO-QUENTE CHIQUE

Cozinhe as salsichas. Para cada salsicha, você vai precisar de 1 fatia de pão de forma sem casca. Abra cada fatia de pão com o rolo de macarrão até que ela fique bem fininha. Pincele os dois lados do pão com uma mistura de maionese, mostarda e ervas. Coloque a salsicha enviesada no pão e enrole-a. Pressione bem para fechar. Leve ao forno até dourar. Fica diferente, bonito, crocante e mais saudável (se é que isso é possível num cachorro-quente), pois leva menos pão e não dá chance dos glutões encherem de mostarda, catchup, maionese, batata palha, queijo parmesão, ovo de codorna, bacon, passas... Ah, e é delicioso!

Sabe aquela história de gente que gosta de carne sangrando? Na próxima semana vamos ver que isso não é possível, porque carne não sangra. Mas vira um rosbife que é de enlouquecer e que será a receita do nosso blog. Até lá.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

O Longo Caminho do Vinho

Demorei, mas voltei. E vamos ao prometido...
Eu tinha acabado de ler o delicioso Vinho e Guerra, de Petie e Don Kladstrup (que devem ser parentes da minha amiga Adriana e só colocaram esses L e D para disfarçar). O livro é ótimo e nos deixa pensando em quantas pequenas coisas para os outros são enormes para nós. Vale a leitura.
Quando pensamos em vinho, pensamos tradicionalmente em França, Itália e, quando muito, Alemanha. Dos chamados vinhos do novo mundo, lembramos dos EUA (Califórnia, especificamente), Austrália, Chile, África do Sul e, para não dexar os nossos hermanos de fora, Argentina. Mas de onde veio essa bebida que se tornou esse sucesso todo?
O vinho tem origens no oriente, não se sabe bem onde. É difícil precisar quem começou com essa idéia de fermentar o suco de uvo, pois vários povos asiáticos antigos distintos (deu para entender isso aí?) têm registros de bebidas com essas características. Provavelmente, a bebida nasceu por acaso. Alguém esqueceu um suco por um tempo e quando foi beber ele estava fermentado. Bebeu, gostou, não morreu e ainda ficou meio alegrinho, e saiu por aí contando a novidade.
O suquinho fermentado só foi ganhar status de coisa-fina-coisa-boa quando chegou na Grécia Antiga. Os gregos filosofaram muito regados por aquela bebida grená escura. Mas o vinho deles não era muito bom, porque era armazenado em ânforas. Quando os romanos tomaram tudo o que era terra e constituíram o seu império, eles conheceram o vinho grego e passaram a armazená-lo em barris de madeira. Começava ali a consolidação dos métodos atuais de fabricação e, também, a seleção das melhores uvas e dos melhores terrenos para plantio. A região do Império Romano que mais se destacou pela qualidade do vinho produzido foi a que hoje é conhecida popularmente como França.
Para os franceses, o vinho tem uma importância grandiosa. É considerado elemento cultural identificador do povo francês. Eles dão tanta importância ao vinho que fizeram heroísmos na segunda guerra mundial por causa dele. Resumindo: Hitler, quando a Alemanha havia invadido a França, ordenou que fossem transportadas para Berlim todas as garrafas de vinho de alta qualidade que estivessem em território francês. A idéia dele era demonstrar poder e tentar se educar numa bebida mais refinada, pois ele era notório bebedor de cerveja (o que não é demérito algum, como veremos daqui a algumas semanas). Os franceses consideraram isso uma afronta (e era) e fizeram mil e umas para que os alemães não conseguissem levar os vinhos. Contrabandearam, brigaram, enganaram, esconderam. Chegaram a construir paredes falsas para guardar as garrafas e, para que os alemães não percebessem que eram paredes novas, sujavam-nas e aplicavam teias de aranhas recolhidas de outro lugar para dar a impressão de paredes velhas. Entenderam a importância do vinho paras os caras?
Bom e vamos à receita...

MACARRÃO AO MOLHO DE VINHO

Esta receita mistura macarrão, vinho, creme de leite e extrato de tomate. Olhando assim, tem tudo para dar errado. Minha mãe a considera um afronto à boa gastronomia. Mas, na boa, vá por mim e experimente. O sabor é diferente e muito interessante. No popular, é gostoso.
Cozinhe a massa de sua preferência. As massas curtas e com ranhuras (gravatinha, parafuso, penne...) são mais indicadas porque retêm melhor o molho.
Numa panela, coloque um fio de azeite e meia cebola picada. Quando a cebola estiver transparente, coloque 1 lata de creme de leite, a mesma medida de vinho tinto, uma lata pequena de extrato de tomate e meio vidro pequeno de champignons fatiados. Deixe esquentar bem, mas sem ferver. Corrija o sal e sirva sobre a massa. Isso dá para 2 ou 3 pessos. E acredite, fica muito bom.

Na próxima semana vamos falar sobre fast food. E serão duas receitas para você fazer hamburguer e cachorro quente de um jeito diferente. Até lá.

quinta-feira, 8 de março de 2007

E da Clara Fez-se Neve...

Como os comentários da primeira postagem foram bons, voltamos. E voltamos aos ovos, mais precisamente às claras. Quando eu era criança, achava muito estranho aquele negócio de bater a clara molenga e ela virar uma coisa branca resistente que a minha mãe chamava de neve. Não há nada de estranho nisso e a explicação é bem simples.
A clara tem uma estrutura molecular muito interessante. A ligação é muito bem feita e difícil de ser rompida. Aproveitamos essa estrutura para "armazenar" ar dentro dela. É, ar. É o que fazemos quando batemos as claras. Vamos incorporando ar dentro desssa estrutura e ela passa a ganhar aquela forma interessante. É por isso que usamos claras em neve para receitas que devem ficar fofinhas. Ficam fofinhas porque enchemos de ar. Sabe aquele chocolate Suflair? É a mesma coisa.
Para conseguir boas claras em neve vão aqui algumas dicas:
  • apesar de conseguirmos separar clara e gema mais facilmente em ovos que ficaram na geladeira, batemos melhor as claras em temperatura ambiente. Se você guarda seus ovos na geladeira, retire-os um pouco antes de começar a cozinhar para que recuperem a temperatura.
  • se possível, bata as claras num recipiente de inox, pois retêm menos gordura e equilibram a temperatura, produzindo neve de melhor qualidade.
  • comece batendo em velociade baixa e depois vá aumentando. Faça isso para criar uma base estrutural com pequenas bolhas de ar, que são mais estáveis que as grandes. Sabe quando fazemos bolhas de sabão? As grande estouram mais facilmente que as pequenas. Aqui vale a mesma lógica.
  • um truque legal: antes de começar a bater, acrescente às suas claras um pouquinho de nada de vinagre ou um tiquinho de sal. Não fica gosto algum e eles provocam uma variação de pH que proporciona neves mais firmes.
  • e não se esqueça: ao acrescentar as claras em neve à sua receita, incorpore-as bem devagar, misturando lenta e cuidadosamente, para não perder o ar. Afinal, foi para isso que você bateu as claras!

E vamos à receita!

SUFFLÉ DE GOIABADA

Para cada 100g de goiabada, você vai precisar de 1 clara. Se os ovos forem muito pequenos, coloque mais uma no conjunto. Cada 300g servem 5 pessoas. Coloque a goiabada numa panela e acrescente um pouquinho de água filtrada (a função dela é só facilitar o derretimento sem queimar o doce). Leve ao fogo baixo e, mexendo sempre, derreta a goiabada. Se você tiver medo de queimar o doce, pode derreter em banho-maria. Se você se garante, derreta no microondas. Depois de derretida, deixe a goiabada esfriar. Bata as claras em neve, em picos duros. Picos duros? É, quando formam-se picos bem resistentes enquanto você está batendo. Aos poucos e com cuidado, vá juntando a clara batida à goiabada derretida. Bastante cuidado, não queremos perder o ar! No início, parece que não vai dar certo, mas certas coisas na cozinha exigem um pouco de fé. Tenha fé e vá misturando com cuidado. Você verá que vai ser formar uma "espuma" homogênea. Coloque essa espuma em refratários e leve ao forno baixo em banho-maria. Estará pronto quando estiver dourado por cima.

Sirva com um molho frio de queijo. Faça-o assim: misture a mesma quantidade de creme de leite e requeijão de copo. Leve à geladeira. Se você quiser incrementar mais, leve-o ao congelador, deixe-o por 1 hora, retire-o, bata no liquidificador e devolva-o ao congelador. Fica quase um sorvete. Uma outra variação é misturar a mesma quantidade de creme de leite, requeijão de copo e catupiry. Leve à geladeira.

Um outro modo de montar essa sobremesa é colocar um pouco da espuma crua do sufflé no refratário individual, colocar um pedaço de catupiry e completar com a espuma crua. E aí levar ao forno (baixo e em banho-maria). Também fica ótimo. Eu, particularmente, gosto mais do contraste do sufflé quente com o molho gelado.

Aproveite essa sobremesa que é show de bola. Na próxima semana, vamos sair um pouco da ciência e dos ovos. Vamos falar de história e vinho. E ainda rolará a receita do macarrão ao molho de vinho, que, segundo a minha mãe, deveria me condenar à prisão perpétua por afrontar várias culinárias tradicionais com um só prato. Boa semana e bom apetite.

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Existe uma posição certa para guardar os ovos?

Sim, existe. Aliás, aqueles porta-ovos das geladeiras foram feitos por quem não entende de ovos. Primeiro porque foram projetados para a porta das geladeiras, onde a troca de temperatura é mais intensa e freqüente, e, portanto, facilitam a degradação. É lógico que isso é mais preocupante para quem armazena os ovos por muito tempo, mas é melhor guardá-los nas prateleiras da geladeira, e não na porta. O outro problema dos porta-ovos é a posição de armazenagem. Ao contrário do que geralmente fazemos, o jeito correto de guardar um ovo é com a parte pontuda virada para baixo e a extremidade mais larga voltada para cima (é assim que eles vêm nas suas caixas, repare isso na próxima vez que você for ao supermercado). É que nessa extremidade mais larga existe uma camada de ar que dá proteção à estrutura de albumina do ovo. Mantendo nessa posição, evitamos a pressão sobre essa camada de ar e uma possível contaminação. E já que estamos falando de ovos, seguem 3 receitas diferentes de omelete, para você curtir uma refeição rápida e muito gostosa. Sirva-os com uma salada verde e delicie-se (as receitas são para porções individuais).

OMELETE ENVELOPE
Bata 2 ovos, acrescente uma pitada de sal e outra de pimenta do reino. Numa frigideira bem grande (a maior que você tiver), coloque um pouco de manteiga e deixe esquentar, mas sem queimar a manteiga. Coloque os ovos batidos. A frigideira deve ser bem grande para que os ovos fiquem bem espalhados, criando uma camada fina. Bem rapidamente os ovos já começarão a cozinhar, coloque bem no centro do omelete uma fatia de queijo e outra de presunto. As bordas já devem estar descolando, e o omelete, por baixo, já ganhando cor. Dobre as laterais para cima, formando um envelope no recheio. Vire o omelete e deixe dourar os dois lados.

OMELETE BAVEUSE
Bata 2 ovos, acrescente uma pitada de sal, outra de pimenta do reino e 2 colheres de creme de leite. Acrescente uma pitada generosa de ervas finas. Misture bem. Coloque um pouco de manteiga numa frigideira, aqueça e coloque a mistura. quando já estiver cozido em baixo, dobre o omelete e doure os 2 lados. Ao servir você verá que o interior fica bem molinho, como se fosse um creme. A idéia é essa.

OMELETE SUFLÊ
Separe as claras das gemas de 2 ovos. Nas gemas, acrescente uma pitade de sal, outra de pimenta do reino, 1 fatia de queijo minas picado, 1/2 tomate picado sem as sementes e algumas folhas de majericão. Misture bem. Bata as claras em neve, até formar picos firmes. Acrescente aos poucos e com muito cuidado as claras em neve à mistura das gemas, evitando quebrar a estrutura de "neve". Coloque um pouco de manteiga numa frigideira e aqueça. Coloque a mistura e tampe com uma tampa de panela. Depois de 1 minuto, verifique como está o seu omelete. Quando já estiver bem dourado embaixo, vire-o e deixe dourar o outro lado. Você verá que o omelete ficará alto e bem fofinho.

Já que terminamos com o omelete suflê, na próxima semana vamos explicar o que acontece quando a clara vira neve, para que pratos isso é indicado e teremos a receita do sensacional suflê de goiabada. Até lá.